terça-feira, 2 de setembro de 2008

No silêncio: a ambiguidade


Olhaste para o rosto que te fitava e não acreditaste. Nem mesmo quando viste o papel ou quando sentiste que algo tinha mudado em ti. Naquele momento toda a tua vida ficou presa àquela expressão triste, àquela palavra agreste e vazia, àquele segundo em que a realidade se tornou dolorosa de tão irreversível. Regressaste a casa, deixando que fosse o silêncio a ditar o caminho. O sol já não te aquecia, as pessoas empurravam-te com pressa, sem se aperceber que para ti o mundo já não era o mesmo e que o tempo estava parado numa qualquer recordação de um passado distante. Atentaste numa poça de água onde um rosto surgia trémulo, como que situado num limbo indefinido. Sem que pudesses de novo fixar os olhos transparentes, uma rajada de vento mais forte acordou-te do teu torpor, levando consigo a esperança de um futuro. De súbito, sentiste uma voz ao longe a chamar-te. Era serena e quente, fazendo assomar à tua memória o cheiro, imagens e sons daquela infância tão feliz. Sem querer acreditar, decidiste ignorar a partida que a tua mente parecia querer pregar. Mas logo volta a voz, agora mais elevada, mais próxima. Uma mão pousa suavemente no teu braço. Parece que já não carregas o peso do mundo. Fitas o olhar carinhoso que te é dirigido e num abraço deixas que as mágoas escorram livremente e sem represália. Não estás só.


Paul Simon and Art Garfunkel - Sound of Silence



Led Zeppelin - Stairway to Heaven