sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um segredo.


"A gente a transbordar de amor, de ternura, e a esconder tudo à pressa, envergonhados, como os ciganos que vendem camisolas na rua a guardarem as camisolas não vá chegar a polícia. E fica-se assim, de mãos nas algibeiras, a fingir que não é nada. Caminhar entre as pessoas com uma chávena a transbordar de beijos, devagarinho, segurando aquilo tudo com imenso cuidado, no medo que algum beijo caia. Até agora não caiu nenhum: é uma questão de prática." António Lobo Antunes

[Talvez tenha um segredo, uma promessa velada no olhar... Talvez o sorriso encerre um grito, uma lágrima, uma máscara que se desfaz... Talvez seja eu a sombra que me persegue no sonho...]

Guns'N'Roses - November Rain

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No silêncio: a ambiguidade


Olhaste para o rosto que te fitava e não acreditaste. Nem mesmo quando viste o papel ou quando sentiste que algo tinha mudado em ti. Naquele momento toda a tua vida ficou presa àquela expressão triste, àquela palavra agreste e vazia, àquele segundo em que a realidade se tornou dolorosa de tão irreversível. Regressaste a casa, deixando que fosse o silêncio a ditar o caminho. O sol já não te aquecia, as pessoas empurravam-te com pressa, sem se aperceber que para ti o mundo já não era o mesmo e que o tempo estava parado numa qualquer recordação de um passado distante. Atentaste numa poça de água onde um rosto surgia trémulo, como que situado num limbo indefinido. Sem que pudesses de novo fixar os olhos transparentes, uma rajada de vento mais forte acordou-te do teu torpor, levando consigo a esperança de um futuro. De súbito, sentiste uma voz ao longe a chamar-te. Era serena e quente, fazendo assomar à tua memória o cheiro, imagens e sons daquela infância tão feliz. Sem querer acreditar, decidiste ignorar a partida que a tua mente parecia querer pregar. Mas logo volta a voz, agora mais elevada, mais próxima. Uma mão pousa suavemente no teu braço. Parece que já não carregas o peso do mundo. Fitas o olhar carinhoso que te é dirigido e num abraço deixas que as mágoas escorram livremente e sem represália. Não estás só.


Paul Simon and Art Garfunkel - Sound of Silence



Led Zeppelin - Stairway to Heaven

terça-feira, 29 de julho de 2008

Finalmente.


I was blind... couldn’t see

what was here in me
I was blind... insecure
I felt like the road was way too long


The Verve - Love is noise


(Primeiro dia de férias: a sensação estranha de ter partido deixando um bocadinho de mim para trás. Talvez até seja bom... Um novo começo é precisamente aquilo de que preciso.)

sábado, 26 de julho de 2008

À deriva


Nada é permanente e definitivo. Só a morte. E mesmo essa não pode levar a memória daquilo que fomos na vida dos outros, da diferença que fizemos, dos sorrisos e lágrimas que provocamos. Por que motivo, então, me soa esta vida a algo tão frágil e definitivo?

Deixo que as ondas me embalem na esperança que me conduzam a um porto seguro... Sinto-me rodeada por um mar transparente e misterioso que encerra tantas incertezas como a terra firme que abandonei. Talvez não haja um momento certo para partir, talvez deixar para trás aquilo que fomos seja sempre penoso.

Apesar de tudo, não posso deixar de me sentir feliz. Larguei por momentos o leme e deixei que fosse a vida a acontecer-me... E aconteceu-me. E continua a acontecer. E não me arrependo. Porque, no fundo, chego a cada o porto com esperança de me encontrar e de dar o melhor de mim... E parto mais enriquecida, com a certeza que ainda há muito para ser e fazer... Nunca só.


Everything is open
Nothing is set in stone
Rivers turn to ocean
Oceans tide you home
Home is where your heart is
But your heart had to roam
Drifting over bridges
Never to return

Travis - Driftwood

domingo, 20 de julho de 2008

Em perspectiva

Generosity.
Be generous.
With your time... with your love... with your life.

sábado, 31 de maio de 2008

Suspiro


Man muß noch Chaos in sich haben, um einen tanzenden Stern gebären zu können.
Nietzsche

Existence really is an imperfect tense that never becomes a present. Nietzsche

Was mich nicht umbringt, macht mich stärker. Nietzsche

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Devaneios cansados ao crepúsculo

(Devaneio: acto ou efeito de devanear; fantasia; quimera; desvario)

Não sei como escrever e não me apetece fazê-lo. A inquietação regressou hoje com um vigor tal que me arrebatou, sem piedade. As incertezas e inseguranças tomaram as rédeas do meu dia e nem o Sol que finalmente se dignou a aparecer conseguiu restituir o sorriso. Mesmo assim, sei que, um dia, toda esta névoa há-de passar e nessa altura sentirei que o esforço e sofrimento valeram a pena. Pena é que esse momento pareça tão longínquo e inacessível, que "esse lado" que tanto anseio exija mais do que aquilo que consigo dar!

Desconheço o reflexo que vejo nas lágrimas. Estranho esta angústia que corrói a minha habitual determinação e ânimo. A minha esperança jaz frustrada e eu não entendo porque sofro assim. Temo estar a lutar incansavelmente por uma vida que não pode ser a minha, que não mereço, afinal... No entanto, continuo a seguir por esse caminho desconhecido, acompanhada pelos "múltiplos" eus que podia ter sido (e não fui) se tivesse tomado determinado atalho. Não me arrependo de nenhuma escolha, de nenhuma queda. Só gostava de poder compreender melhor a pessoa que sou agora, de poder dar mais de mim àqueles que fazem da minha vida algo pelo qual vale a pena lutar. Aguardo ansiosamente que estes períodos turbulentos passem e que o sol ilumine de novo o caminho para que eu possa encarar com mais confiança o futuro.

Apesar de toda a complexidade que temo em deixar vencer, tenho muitos motivos de felicidade. Pena é que, às vezes, a penumbra seja tão grande que não consiga vê-los. Estou muito grata por todas as pessoas que fui conhecendo e que foram entrando no meu mundo, deixando a sua marca e contribuindo para aquilo que sou. É reconfortante sentir que o futuro, por muito incerto que possa parecer, é feliz desde que os meus amigos e família façam parte dele.


Pink Floyd
- High Hopes

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Chega de silêncio... mas será o momento certo?


Chove…
Mas isso que importa!,
Se estou aqui abrigado nesta porta
A ouvir na chuva que cai do céu
Uma melodia de silêncio
Que ninguém mais ouve
Senão eu?

José Gomes Ferreira

Hoje não chove... o Sol já não brilhava assim há muito. Já sentia saudades do calor meigo na pele, da luminosidade de um dia de Inverno vista do lado de fora da janela. A curta viagem até à faculdade despertou-me os sentidos, arrancando-me do marasmo e moleza do primeiro dia de férias. Recordou-me que, embora os primeiros desafios já tenham sido vencidos, tenho falhado noutras esferas da minha vida. Está na altura, talvez, de descobrir e conquistar novos horizontes, abandonando a segurança das sendas já percorridas. Contudo, nem sempre é fácil desprezar aquilo que se tinha como garantido e que transmitia o reconfortante sentimento de realização. A aventura do desconhecido acarreta inúmeros riscos, exigindo a renúncia ao facilitismo, ao conformismo. A decisão de (re)construir um projecto de vida feliz implica percorrer um caminho árduo e fragoso. Quando penso sobre o significado de tudo aquilo que sou não posso deixar de me sentir inconformada. Quero mais... quero reciprocidade!
É participando da melodia de silêncio que tenho aprendido a compreender os enigmas que assombram uma existência feliz e a encontrar as respostas para as perguntas que nunca ousei colocar em voz alta. Nem sempre elas coincidem com aquilo que esperava mas são, sem margem para dúvidas, uma pequena luz na grande penumbra do que sou e para onde vou. São essas respostas simples e significativas que me têm ajudado a fazer frente e conquistar os obstáculos que se interpõem no caminho escolhido. Nestes últimos tempos, só na comunhão com o silêncio é que tenho conseguido reunir, numa só entidade, aquilo que fui, sou e serei. Mudei tanto neste último ano e, se isso aconteceu, muito o devo àquelas pessoas que são a constante mais invariável da minha vida e o alicerce das minhas (poucas) certezas. "Sei que sabem que sim"
No entanto, mesmo sabendo que a mudança foi frutuosa (apesar do que implicou), não sei se estou disposta a correr um novo risco. Por muito que quisesse, por muito que o meu coração assim o ditasse, não sei com que armas devo lutar desta vez nem que estratégia usar. Sinto-me encurralada numa encruzilhada em que o caminho por onde vim é tão imprevisível como aquele por onde sigo. Precisava de, pelo menos uma certeza, que me indicasse que, desta vez, não serão vertidas lágrimas nem haverá sorrisos tristes. Sei que não há certezas nem absolutos mas é tão difícil avançar no escuro, sem a esperança a iluminar as pedras do caminho! Compreendo que não se atinja a felicidade sem sofrer um bocadinho no trajecto... Mas o que resultará se estiver disposta a correr o risco, sofrer e mesmo assim não conseguir? O que sobrará desta vez?